quinta-feira, 23 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Conflito psíquico e patologia

A idéia de forças em oposição esteve presente no século XIX em vários campos do saber. Na fisiologia física, o princípio de conservação de energia apresentava a idéia de forças químico-físicas inerentes à matéria, redutíveis a forças de atração e repulsão. Freud de algum modo se inspirou e foi influenciado pela fisiologia física, pela medicina e pela biologia de seu tempo.

Em Freud, o conflito psíquico é constitutivo do sujeito, uma vez que ele baliza não só a concepção de aparelho psíquico, como também de patologia. Assim, desde “Estudos sobre a histeria” (1893), o conflito já aparecia na clínica de Freud.

Em 1900, o conflito reaparece atuando sobretudo nos sonhos, nas formas de funcionamento energético dos sistemas consciente e inconsciente: o inconsciente exerce uma ação permanente nos sonhos, de acordo com sua livre descarga de energia, contraria à força dos sistemas pré-consciente/consciente, que tentam vincular essa energia. O inconsciente é que a neurose é o resultado de um conflito entre os sistemas psíquicos; um conflito entre suas formas de funcionamento. Assim, o sistema inconsciente exerceria uma ação permanente nos sonhos e nos processos psíquicos, o que exigiria a ação de uma força contrária, da censura pré-consciente.

Conceito de Pulsão

Em 1894, Freud utilizou o termo “pulsão” em relação às tensões endógenas que buscavam soluções, e, em 1895, em relação aos estímulos endógenos que se colocavam no corpo como força. Em 1905, quando escreveu o artigo “Três ensaios de teoria sexual”, que este conceito de demarcação do psíquico com o corporal foi enunciado claramente. Para Freud, a sexualidade distingue-se da idéia de sexo identificada exclusivamente aos órgãos genitais: o corpo é constituído de zonas erógenas, passíveis de prazer sexual. Esta sexualidade está presente na infância, o que já expressa uma diferença de Freud para com sua época. Assim, desde a infância há um objeto e um alvo sexual atuantes. No entanto, durante o desenvolvimento, podem acontecer desvios da pulsão sexual, ou melhor, da escolha de objetos da pulsão sexual.

A idéia de “desvio” parte do pressuposto de que haveria um caminho correto ou normal a ser seguido, a partir de uma ordem dada. O próprio Freud nos fala disso, de “desvios em relação a uma norma suposta" (Freud, 1905: 84). Freud utiliza a terminologia “norma”. Parece que ele mesmo já adianta que a nomia é uma norma suposta em dado lugar, em dado tempo.

Ao remontar-se a Aristófanes no Banquete de Platão, Freud indica que a pulsão sexual se distingue de algo biológico: segundo Freud, por causa deste mito, as pessoas estariam romanticamente acostumadas a união entre homem e mulher. Contudo, existem uniões que não obedecem a essas regras, as uniões dos “invertidos”. Isso acontece porque o próprio alvo da pulsão sexual é variável, porque a pulsão transcende a ordem biológica. Assim, a degenerescência dos invertidos não pode ser considerada como uma causa determinante da inversão.

Em 1915 Freud coloca em uma nota de rodapé, que todos os seres humanos seriam capazes de fazer uma escolha homossexual. A partir do homossexualismo, ele vem relativizar o que seria normal e o que seria patológico na escolha de objetos pulsionais (Freud, 1905: 135).

E o que nos interessa: “Os insanos apresentam somente este desvio aumentado (...)” (Freud, 1905: 135). Freud ultrapassa o pensamento de sua época, ao relativizar o que é normal e o que é patológico em relação à sexualidade, por outro ele vem retomar a condição quantitativa na causa das doenças.a explicação da histeria passa pelo ponto de vista quantitativo, no sentido do excesso de excitações pulsionais que deveriam ser descarregadas (Freud, 1905: 135).

Portanto, entre a pressão pulsional e seu antagonismo à sexualidade, a doença oferece um caminho de fuga e de evasão do conflito, que transforma os impulsos pulsionais em sintomas.

Conflito pulsional e patologia

Em 1910, Freud escreve um artigo intitulado “A concepção psicanalítica da perturbação psicogênica da visão”, no qual ele organiza claramente o conflito de pulsões que estão a serviço da sexualidade, da consecução da satisfação sexual - as pulsões sexuais - e pulsões cujo objetivo é a autoconservação - as pulsões do ego. A primeira teoria das pulsões, a instância defensiva egóica coincide com um dos pólos pulsionais, que se confronta com as pulsões sexuais. Mais tarde, com o segundo dualismo pulsional, o conflito será entre as pulsões de vida e as pulsões de morte.Freud coloca que a natureza das neuroses é oriunda do conflito entre as pulsões (Freud.1913: 184).

As neuroses ligam-se ao confronto dos interesses da sexualidade com os da autoconservação. Este confronto desencadearia o recalcamento, que por sua vez originaria a produção sintomática. Em outras palavras, o estado patológico remete-se a um conflito que causa desprazer, que aumenta o nível de energia no sujeito e, por conseqüência, produz o recalcamento.

Freud indica que o equilíbrio é sempre ameaçado, é um equilíbrio constantemente controlado, de uma estabilidade mantida contra as influências perturbadoras.

Retomando a clínica psicanalítica

No final do século XIX Freud se deparou com os limites da hipnose como técnica de tratamento. Com o abandono da hipnose, a tarefa passou para a descoberta, com as associações livres do paciente. A resistência deveria ser comandada pela interpretação, e a transferência era um obstáculo ao tratamento, uma falsa ligação, que deveria ser tomada consciente e eliminada (Freud, 1914).

Em 1909, nas “Cinco lições de psicanálise”, que Freud sublinha o papel da transferência como aliada, apontando que somente no espaço transferencia, que os sintomas poderiam ser solucionados. Entre 1912 e 1915, Freud retoma a questão da transferência no tratamento.

Segundo Freud, todo ser humano adquire um meio específico de se conduzir na sua vida amorosa. Isso resulta num ou vários “clichês estereótipos”, que são repetidos e reimpressos de maneira regular na trajetória da vida. Esses clichês também dirigem à figura do psicanalista.Mas o que instiga Freud é o fato de a transferência surgir também como uma poderosa resistência ao tratamento, o que desemboca na idéia de que há “forças cuja meta são a saúde e aquelas que a contrariam" (Freud, 1912: 101). É a partir desse contexto que Freud fala que há uma transferência positiva e uma negativa no tratamento, respectivamente, de sentimentos afetuosos e hostis. Nas formas curáveis de psiconeuroses, os dois tipos de transferência encontram-se juntos, expressando a ambivalência de sentimentos (Freud, 1912).

Podemos dizer que a idéia de focalizar o sintoma.expressando uma tentativa de localizar o fator traumático, provando assim as hipóteses sobre a patologia do sujeito. Quando Freud abandona a tentativa de colocar em foco um problema ou um momento específicos, sugerindo uma “atenção flutuante" do analista frente a tudo que escuta, uma mudança estratégica parece se configurar: do lado do analisando, este deve deixar-se levar pelas associações livres; e do lado do analista, este deve deixar sua atenção focalizada em suspenso e ao mesmo tempo tentar dissolver as resistências criadas no campo da análise, ou seja, tudo o que pode impedir o acesso à verdade do inconsciente.

A clínica freudiana do final do seculo XIX, segundo a qual tentava-se criar um sistema fechado e neutro para que se obtivesse a cura. Agora, a psicanálise não quer mais provar algo: a ambição veriñcacionista se desloca para dar ênfase à relação intersubjetiva entre o analista e o analisando e aos obstáculos ao curso da fala. Nesse sentido, não importa nem mesmo se o analisando vai discordar ou concordar com a interpretação do analista: o que importa é que se mantenha o trabalho de associações livres no campo transferencial.

A Repetição na Transferência No artigo “Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud coloca que o analisando começa o tratamento por uma repetição na transferência, trazendo para primeiro plano a problemática da compulsão à repetição (Freud, 1914: 153).

Para transformar a compulsão à repetição em recordação, é necessário um trabalho do analisando junto ao analista: “É preciso dar tempo ao enfermo para concentrar-se na resistência. Somente no apogeu da resistência se descobrem, os impulsos puncionais recalcados que a alimentam e que em virtude dessa vivência o paciente se convence de sua existência e poder” (Freud, 1914: 157).

O recurso principal para dominar a compulsão à repetição e transforma-la num motivo para recordar reside no manejo da transferência. Assim, tenta-se tomar a compulsão inócua e útil, na qual a neurose comum pode transformar-se numa neurose de transferência.

Podemos concluir,dizendo que até há uma idéia de laboratório no discurso freudiano por volta de 1912, 1914, mas indícios de que Freud já está repensando esse lugar de “experimentador”.

“O recordar, não podia menos que provocar a impressão de um experimento de laboratório. O repetir, no curso do tratamento psicanalítico, segundo essa técnica mais nova, equivale a convocar um fragmento da vida real (Freud, l9l4: 153-4).

Metapsicologia, narcisismo e pulsões

Em 1915, Freud incrementou o pólo econômico do psiquismo. Ele retomou a questão do traumatismo, destinos das pulsões, deu relevo ao conceito de recalcamento, ampliou o conceito de inconsciente e a noção de representação, falou de um narcisismo estruturante do sujeito, colocando que o ego contém libido, o que vinha problematizar a primeira teoria pulsional. Com esses trabalhos a questão da patologia foi mais enriquecida.

Em I9l4, Freud escreve um artigo intitulado “Introdução ao narcisismo” e coloca que há um narcisismo primário e normal nos sujeitos, remontado à localização dos investimentos da libido no ego. O narcisismo surge deslocado em direção a um ego ideal que se acha possuído de perfeição e valor, identificado com um ideal narcísico de onipotência. Segundo Freud, o desenvolvimento da estrutura egóica consiste no afastamento do narcisismo primário, ocasionado pelo deslocamento da libido em direção a um ideal do ego imposto de fora.

Em 1916, na conferência “Os caminhos da formação do sintoma”, Freud confirma esse raciocínio: “Não nos basta uma análise puramente qualitativa das condições etiológicas. É decisivo o fator quantitativo para a capacidade de resistência de contração da neurose.

Freud ressalta vários pontos importantes. Primeiro, dá relevo ao fator econômico na contração da neurose. Fator econômico se remete às formas de investimento da libido,ele aponta que cada sujeito pode dar destinos diferentes às quantidades de excitação, originando, por exemplo, uma sublimação.

Essa idéia de que o sujeito pode dar diferentes destinos às quantidades de excitação prepara a discussão trazida por Freud em 1915 no artigo “As pulsões e seus destinos”. Segundo Freud, a pulsão 6 um estímulo constante,ou melhor, ela atua como um impacto constante, o que expressa uma de suas características principais, a força. O alvo da pulsão é sempre a satisfação, que só pode ser alcançada cancelando o estado de estímulo na fonte da pulsão. A satisfação é a
redução da tensão provocada pela força.

O objeto da pulsão é a coisa através da qual ela atinge seu alvo.Um laço extremamente íntimo e cristalizado da pulsão com o objeto se dá através da fixação, que põe fim à sua mobilidade e é característica das patologias. A quarta característica da pulsão é sua fonte. Freud coloca que, por fonte, entende-se o processo somático, interior a um órgão ou a uma pane do corpo, cujo estímulo é representado na vida psíquica pela pulsão.

Podemos observar que os quatro componentes pulsionais - a força, o alvo, o objeto e a fonte - obedecem ao funcionamento do princípio do prazer. Pois se o que se coloca como pano de fundo de toda essa discussão é o fato de que o aparelho psíquico tende a fugir do desprazer, a pulsão vem, naturalmente, sublinhar essa tendência da vida psíquica. Assim, a fonte corporal produz uma tensão, que se coloca como força e exige um trabalho, um movimento que evite o desprazer para atingir o alvo pulsional, ou seja, a satisfação. a idéia de patologia que Freud nos apresenta nessa época obedece ao funcionamento do princípio de prazer, que é ainda mais enriquecido com o relevo do pólo econômico.

De acordo com Freud, o sujeito pode dar quatro destinos ãs pulsões: a reversão ao oposto; o retomo em direção ao eu; o recalcamento e a sublimaçãos. Essas vicissitudes são consideradas como modalidades de defesa contra as pulsões. A sublimação é considerada como uma dessexualização da pulsão sexual, uma mudança no alvo pulsional.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Recalcamento e patologia

O conceito de recalcamento está presente em toda a obra freudiana. Ele verificou que os pacientes não tinham à sua disposição determinadas recordações devido à resistência psíquica. Em 1915 Freud aprofundou a discussão do recalcamento, discutindo suas relações com os conceitos de pulsão, a noção de representação e o conceito de inconsciente. Segundo Freud, o recalcamento é responsável pela clivagem do psíquico em instâncias, “o inconsciente, e o pré-consciente/consciente”. O recalcamento é um dosdestinos possíveis que o representante ideativo pulsão pode sofrer, consistindo na tentativa de manter este impulso distante da consciência. O motivo deste afastamento seria que este impulso causaria desprazer e prazer ao mesmo tempo, em lugares diferentes. se a força motora do desprazer for mais vigorosa do que a do prazer, acontece o recalcamento.

Pensar a relação da patologia com o recalcamento, uma vez que este último é um processo que perrnite o advento do inconsciente, a clivagem do psíquico em instâncias, mas é também o que justifica a patologia o recalcamento é a condição da subjetividade, ou seja, se ele é uma característica comum aos sujeitos, a condição “normal” teria que ser relacionada com a clivagem do aparelho psíquico em instâncias,que é proporcionada pelo recalcamento. O recalcamento seria a condição da patologia, da criação de uma fobia ou de uma neurose. Qual seria então a especificidade do patológico em Freud, uma vez que o recalcamento faria parte da “normalidade”. E o normal e o patoloico são sempre singulares, não há uma norma absoluta no discurso freudiano. Freud se preocupado com a primazia do sentido do prazer. O aumento da quantidade de excitação intema seria sentido como desprazer e seu rebaixamento como prazer. Freud ressalta que as representações são investidas constantemente pela pulsão, só podendo ser mantidas no inconsciente se uma força igualmente constante for exercida em sentido contrário (Laplanche e Pontalis, 1986), há aqui a idéia de um equilíbrio dinâmico de forças no psiquismo.

Freud reconhece uma repetição em ato na análise, não podendo se contrapor às pulsões sexuais, ele já começa a se deslocar para o campo do que se dirige para além da representação que desembocará, a partir de 1920, no conceito de pulsão de morte. Assim, se este último conceito vem afirmar que a vida produz as condições em que ela mesma pode ser destruída, esse aspecto também permitirá uma reavaliação do modelo de normal e patológico no pensamento freudiano.

Pulsão de Morte:“a meta de toda a vida é a morte".

Em seu artigo de 1925-1926, "Mais além do Princípio do Prazer", Freud indica seus propósitos em que está interessado nos fenômenos dos quais o princípio do prazer não obedecem ao objetivo do aparelho psíquico.Ao contrário, existem experiências que ultrapassam esse objetivo, e é em busca delas que ele fará seu caminho.

Freud fala da relação do princípio da constância com o princípio do prazer. Para ele trabalho psíquico tenta manter constante ou tão baixas quanto possível as excitações internas, para ressaltar, em seguida, que o princípio do prazer decorre do princípio de constância. Freud percebe que se há no aparelho psíquico uma tendência ao princípio do prazer, nem sempre se consegue chegar a essa harmonia. Ele então busca os eventos que contradizem este princípio, desenvolvendo seu raciocínio em tomo dos impasses clínicos constituídos pelos fenômenos de repetição (sonhos traumáticos entre outros).

Mas são exatamente esse fenômenos da compulsão à repetição que apresentam uma repetição desprazerosa e vêm expressar um poder demoníaco na vida psíquica. Segundo Freud, essa compulsão à repetição destrona o princípio do prazer.Essa característica da compulsão é o que conduzirá Freud ao conceito batizado de pulsão de morte.

Para chegar a esse conceito Freud retoma, a partir de Breuer, as concepções de energia livre e energia vinculada. A noção de ligação é relacionada aqui à capacidade pulsional de constituir ou não formas organizadas. Freud é levado a buscar algo que aponte para o campo do mais além do princípio do prazer. Esse algo é a pulsão de morte.

De acordo com Freud, as pulsões de morte caracterizam-se por uma tendência regressiva e conservadora. .lá as pulsões de vida ou pulsões sexuais se opõem ao trabalho das pulsões de morte, e são definidas pelo estabelecimento de formas mais organizadas. A vida de cada sujeito consiste no conflito dessas duas classes de pulsões, enquanto a morte significa a vitória das pulsões de morte. As duas pulsões sempre aparecem mescladas, sendo que as pulsões de vida seriam ruidosas e as pulsões de morte silenciosas. “a meta de toda a vida é a morte" (Freud, 1920: 38).

Em 1920, Freud, relaciona o princípio do prazer com princípio de Nirvana (Freud, l920:54). Freud não rompe ainda definitivamente com a idéia de homeostase, mas traz as ferramentas e os índices que permitirão essa ruptura.

Estruturas Dissipativas

O sistema freudiano é feito de trocas, de investimentos e de retiradas de energia com o mundo. Portanto, o segundo princípio da termodinâmica (qualquer transformação a entropia do sistema aumenta num grau máximo, e quando esse processo pára, o sistema permanece em estado de constância) já não se aplicaria, de início, ao discurso freudiano. Se em Freud há uma idéia de perda de energia, essa energia retomaria ao sujeito insistentemente, na tentativa de se ligar a algum grupo de representações.

Contudo, se a pulsão de morte não quer dizer realmente a morte em si mesma, ou a morte térmica, é necessário lembrarmos que se a pulsão de morte funcionar livremente, sem produzir ligações com as pulsões de vida, ela realmente pode levar à morte. Em “A denegação” (1925), Freud destaca que a função do julgamento corresponde à dualidade pulsão de morte x pulsão de vida, ele ressalta também o negativismo dos psicóticos, que é resultado de uma desfusão das pulsões efetuada através da retirada dos componentes libidinais, ou seja, da retirada de Eros e do trabalho solitário de Tânatos.

A teoria das estruturas dissipativas pode servir para ilustrar a criatividade das pulsões de morte, ou seja, para apontar que na entropia há possibilidades de produção de novas formas.

As possibilidades criativas da pulsão de morte só podem apresentar-se em sua ligação com a vida, no conflito pulsional: o trabalho da pulsão de morte só pode transformar-se em produção quando entra em confronto com as pulsões de vida.

Freud nos fala que a pulsão de morte é uma força regressiva e conservadora, enquanto que as pulsões de vida propiciam formas mais organizadas. É a pulsão de morte, com sua função “desequilibrante”, que vem reavaliar a idéia do normal em relação a um patológico, na medida em que o desequilíbrio faz parte do sujeito, e pode possibilitar o movimento da diferença.

A pulsão de morte vem expressar que no desequilíbrio pode haver um movimento contrário ã degradação, ou seja, um movimento criador de novas formas, que se manifestada no conflito pulsional. Portanto, a energia que irrompe das pulsões de morte, com seu caráter “desestabilizador” e “desequilibrante”, pode produzir uma positividade.

Angústia e desamparo

A angústia era entendida por volta de 1915 como um resultado da falha do recalcamento, em que o desprazer não foi contido. O critério estabelecido era o do princípio do prazer, o da busca de uma estabilidade e um equilíbrio intemo. No artigo “O ego e o id” (1923), Freud coloca que o próprio ego é a sede real de angústia, indicando que é a angústia que produz o recalcamento, e não o recalcamento que produz a angústia. É a angústia do ego que põe em movimento o recalcamento, primária e estruturante do sujeito, e o ego auxilia o recalcamento na tentativa de capturar algo não elaborado.

Em 1926, Freud supera a distinção genérica entre angústia neurótica e angústia real. Para Freud, o problema do perigo se remete à capacidade de o sujeito lidar com a magnitude do perigo, ou seja, seu reconhecimento de desamparo face a esse perigo: desamparo físico se o perigo for real, e desamparo psíquico se o perigo for pulsional. Uma situação de desamparo desta espécie. Freud chama de situação traumática. A angústia é a reação originária frente ao desamparo no trauma. Quando o
ego desencadeia o sinal de angústia, ele procura evitar ser submergido pelo aparecimento da angústia automática, através de uma repetição ativa de algo
que havia vivido passivamente.

“ Freud retoma as relações do masoquismo com o princípio do prazer e o princípio de Nirvana em seu texto “O problema econômico do masoquismo” (1924), colocando que o principio de Nirvana expressa a tendência da pulsão de morte, enquanto que o princípio de prazer representa as exigências da libido. Sendo assim, o ruasoquismo primário remonta ao estado livre da pulsão de morte (Birman, 1989: 147). A questão do desamparo pode se afirmar de forma ainda mais marcante a partir da postulação da pulsão de morte, uma vez que esta última aponta o que escapa ao campo
representacional. Essa experiência, que é vivida como terror pelo sujeito. Remonta à incapacidade de dominação das excitações impelidas ao psíquico e pode expressar-se sobretudo através do trauma. De acordo com Freud, o traumatismo é primeiramente uma ameaça ao ego-corpo É uma ameaça à vida, que se liga ao medo da morte pelo ego.

O complexo de castração também se firma a partir da pulsão de morte: a experiência da castração é um impacto, que trará suas conseqüências psíquicas dependendo das relações quantitativas de quanto dano é causado e de quanto pode ser evitado.

O caminho da sublimação

Freud falava que a sublimação seria uma das possíveis formas de se evitar o desprazer e as fontes de sofrimento causadas pela civilização, remetendo a sublimação à mudança de alvo sexual, em que a pulsão é dessexualizada (Birman, 1994: 32).

Nesta perspectiva, o sujeito não abriria mão de sua posição desejante; mais ainda, daria um destino ao seu desamparo.

No artigo “O ego e o id", Freud fala que a sublimação tem como caminho necessário a desfusão das pulsões, um caminho no qual o conflito pulsional poderia desembocar, através de um retorno ao ego da libido investida nos objetos, uma desfusão pulsional, e um posterior destino à libido (Freud, 1923: 46). Ele continua dizendo que para que o ego não vire objeto das pulsões de morte, ele tem que acumular libido dentro de si e tornar-se o representante de Eros. Com o risco de morrer, o ego escolhe aqui, através da sublimação, o caminho do combate que toma a vida possível (Freud, 1923: 57).

A desfusão pulsional pode também fazer parte de um caminho criativo, através da relação de Eros com Tânatos. Portanto, quando Freud indica que a desfusão pulsional faz parte do caminho da sublimação, e se a desfusão das pulsões é impulsionada pelas pulsões de morte, podemos observar aqui um trabalho criador nessas últimas pulsões, que será engendrado através de sua ligação com as pulsões de vida.

Não há "cura" na análise

Após a criação do conceito de pulsão de morte, o desamparo psíquico afirma-se ainda mais em Freud, uma vez que a análise não protegerá o sujeito de ser desemparado, o que aponta para o fato de que não há "cura" esquemâtica ou total” na análise. “O indivíduo não deve se curar. senão permanecer doente, pois não merece nada melhor. (Freud, 1938: 180). A análise deve criar as condições psicológicas mais favoráveis para as funções do ego (Freud, 1938: 251)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Cristal

Se atiramos ao chão um cristal, ele se parte, mas não arbitrariamente. Ele se parte, segundo suas linhas de clivagem, em pedaços cujos limites, embora fossem invisíveis, estavam determinados pela estrutura do cristal. Cada estrutura se quebra de uma maneira própria e tem pessoas que morrem sem a estrutura se quebrar. O patológico é este cristal partido que, graças à sua quebra, fornece a inteligibilidade do comportamento definido como normal. “um ser humano se torna neurótico por não poder suportar a frustração imposta pela sociedade com seus ideais culturais”

referente a: "Apesar de sabermos que toda estrutura tem um ponto vulnerável, não sabemos nunca o que é que a faz estrutura quebrar (se não se conhece as linhas de quebra não se pode saber como vai quebrar)"
- Blog Traços e Laços: Sobre a questão das Estruturas Clínicas - Neurose, Psicose, Perversão. (ver no Google Sidewiki)

Normalidade

Normal é qualquer sujeito que fez uma escolha por qualquer um desses caminhos, cuja estrutura não se quebrou. Então o que chamamos de normalidade é qualquer dessas estruturas que não se quebrou. Enquanto a estrutura não quebra os seres humanos estão na estrutura chamada “normalidade”. Cada estrutura se quebra de uma maneira própria e tem pessoas que morrem sem a estrutura se quebrar.

referente a: Blog Traços e Laços: Sobre a questão das Estruturas Clínicas - Neurose, Psicose, Perversão. (ver no Google Sidewiki)

Inserção do humano

A inserção do humano se dá por esses três caminhos: neurose, psicose e perversão. Por qualquer desses caminhos ele se humaniza – sempre na inscrição simbólica.

referente a: Blog Traços e Laços: Sobre a questão das Estruturas Clínicas - Neurose, Psicose, Perversão. (ver no Google Sidewiki)

Universo simbólico

A inscrição da cria humana no universo simbólico, é o momento constitutivo dessa estrutura. A partir daí existem duas possibilidades, uma delas desdobrada em 3 alternativas: Não inscrição no universo simbólico. Não constituição de uma estrutura. Nessa primeira possibilidade, a cria humana não se inscreve no universo simbólico, então não há estrutura. Segunda possibilidade: em se dando a inscrição no universo simbólico. A inscrição se faz pela estrutura. Existem três caminhos possíveis: a via que vai pela NEUROSE, uma outra possibilidade a PSICOSE, e uma outra a PERVERSÃO.

referente a:

"Não inscrição no universo simbólico. Não constituição de uma estrutura. Nessa primeira possibilidade, a cria humana não se inscreve no universo simbólico, então não há estrutura.Segunda possibilidade: em se dando a inscrição no universo simbólico. A inscrição se faz pela estrutura. Existem três caminhos possíveis: a via que vai pela NEUROSE, uma outra possibilidade a PSICOSE, e uma outra a PERVERSÃO."
- Blog Traços e Laços: Sobre a questão das Estruturas Clínicas - Neurose, Psicose, Perversão. (ver no Google Sidewiki)

Espaços diferenciados da tópica

O inconsciente, pré-consciente e consciente são espaços diferenciados, regidos por leis e propriedades próprias. Podemos pensar o psiquismo em termos de espaço, movimento e uma lógica interna. Quando se fala de estrutura psíquica estamos falando de funções, sistemas, relações, articulações e quando Freud rompe com esse contínuo normal e patológico ele vai propor a idéia de que todos nós nos humanizamos a partir da constituição de uma estrutura psíquica.

referente a:

"Quando se fala de estrutura psíquica estamos falando de funções, sistemas, relações, articulações e quando Freud rompe com esse contínuo normal e patológico ele vai propor a idéia de que todos nós nos humanizamos a partir da constituição de uma estrutura psíquica."
- Blog Traços e Laços: Sobre a questão das Estruturas Clínicas - Neurose, Psicose, Perversão. (ver no Google Sidewiki)

Estrutura Psíquica

A Estrutura Psíquica é uma organização: ela possui um conjunto ordenado de elementos, onde há uma regra, uma ordem (uma estrutura nunca pode ser pensada em termos de caos), tem um princípio de racionalidade, é dinâmica e tem funções e propriedades que se articulam. O psiquismo portanto é uma estrutura pensada em termos de lugar e isto está colocado por Freud (cap. VII, livro V- “A Interpretação dos Sonho”)

referente a:

"Este lugar que é pensado em termos da estrutura psíquica não é um lugar qualquer, quando Freud foi denominar a estrutura psíquica ele usou a palavra TÓPI"
- Blog Traços e Laços: Sobre a questão das Estruturas Clínicas - Neurose, Psicose, Perversão. (ver no Google Sidewiki)

O social para a psicanálise

O que nós chamamos de social é uma estrutura na qual a linguagem tem seu papel fundamental, então esta questão pode ser retraduzida como uma questão que diz respeito ao modo de relação. São modos de relação, entre desejo e linguagem, ou são modos de relação entre desejo e, de uma forma ou de outra, aquilo que fornece o fundamento da vida social no sentido
mais amplo

referente a: safatle_pdf.pdf (objeto application/pdf) (ver no Google Sidewiki)

Paralelismo mental e social

No paralelismo entre mental e social permite compreender muito claramente como é que as categorias são no fundo descrições de modos de inserção social. Só que como o dispositivo de inserção social para a psicanálise nada mais é do que o desejo e os seus processos de socialização, e por outro lado, como o que chamamos de social trata a psicanálise, principalmente a lacaniana, marcada pelo menos nesse ponto, por uma estratégia
estruturalista de colocar a linguagem no centro da vida social.

referente a: safatle_pdf.pdf (objeto application/pdf) (ver no Google Sidewiki)

O normal e o patológico em Freud

O problema do normal e do patológico no discurso freudiano, parte de dois modelos: num primeiro modelo, haveria a idéia de uma homeostase psíquica, um estado de equilíbrio dinâmico, que balizaria as concepções de normal e de patológico, as quais se diferenciariam quantitativamente. Num segundo modelo, Freud se depararia com o campo para além do princípio de prazer, trazendo a idéia de um desequilíbrio inerente ao sujeito.

referente a:

"O normal e o patológico em Freud"
http://www.scribd.com/doc/37637913/O-NORMAL-E-O-PATOLOGICO-EM-FREUD