terça-feira, 21 de setembro de 2010

Retomando a clínica psicanalítica

No final do século XIX Freud se deparou com os limites da hipnose como técnica de tratamento. Com o abandono da hipnose, a tarefa passou para a descoberta, com as associações livres do paciente. A resistência deveria ser comandada pela interpretação, e a transferência era um obstáculo ao tratamento, uma falsa ligação, que deveria ser tomada consciente e eliminada (Freud, 1914).

Em 1909, nas “Cinco lições de psicanálise”, que Freud sublinha o papel da transferência como aliada, apontando que somente no espaço transferencia, que os sintomas poderiam ser solucionados. Entre 1912 e 1915, Freud retoma a questão da transferência no tratamento.

Segundo Freud, todo ser humano adquire um meio específico de se conduzir na sua vida amorosa. Isso resulta num ou vários “clichês estereótipos”, que são repetidos e reimpressos de maneira regular na trajetória da vida. Esses clichês também dirigem à figura do psicanalista.Mas o que instiga Freud é o fato de a transferência surgir também como uma poderosa resistência ao tratamento, o que desemboca na idéia de que há “forças cuja meta são a saúde e aquelas que a contrariam" (Freud, 1912: 101). É a partir desse contexto que Freud fala que há uma transferência positiva e uma negativa no tratamento, respectivamente, de sentimentos afetuosos e hostis. Nas formas curáveis de psiconeuroses, os dois tipos de transferência encontram-se juntos, expressando a ambivalência de sentimentos (Freud, 1912).

Podemos dizer que a idéia de focalizar o sintoma.expressando uma tentativa de localizar o fator traumático, provando assim as hipóteses sobre a patologia do sujeito. Quando Freud abandona a tentativa de colocar em foco um problema ou um momento específicos, sugerindo uma “atenção flutuante" do analista frente a tudo que escuta, uma mudança estratégica parece se configurar: do lado do analisando, este deve deixar-se levar pelas associações livres; e do lado do analista, este deve deixar sua atenção focalizada em suspenso e ao mesmo tempo tentar dissolver as resistências criadas no campo da análise, ou seja, tudo o que pode impedir o acesso à verdade do inconsciente.

A clínica freudiana do final do seculo XIX, segundo a qual tentava-se criar um sistema fechado e neutro para que se obtivesse a cura. Agora, a psicanálise não quer mais provar algo: a ambição veriñcacionista se desloca para dar ênfase à relação intersubjetiva entre o analista e o analisando e aos obstáculos ao curso da fala. Nesse sentido, não importa nem mesmo se o analisando vai discordar ou concordar com a interpretação do analista: o que importa é que se mantenha o trabalho de associações livres no campo transferencial.

A Repetição na Transferência No artigo “Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud coloca que o analisando começa o tratamento por uma repetição na transferência, trazendo para primeiro plano a problemática da compulsão à repetição (Freud, 1914: 153).

Para transformar a compulsão à repetição em recordação, é necessário um trabalho do analisando junto ao analista: “É preciso dar tempo ao enfermo para concentrar-se na resistência. Somente no apogeu da resistência se descobrem, os impulsos puncionais recalcados que a alimentam e que em virtude dessa vivência o paciente se convence de sua existência e poder” (Freud, 1914: 157).

O recurso principal para dominar a compulsão à repetição e transforma-la num motivo para recordar reside no manejo da transferência. Assim, tenta-se tomar a compulsão inócua e útil, na qual a neurose comum pode transformar-se numa neurose de transferência.

Podemos concluir,dizendo que até há uma idéia de laboratório no discurso freudiano por volta de 1912, 1914, mas indícios de que Freud já está repensando esse lugar de “experimentador”.

“O recordar, não podia menos que provocar a impressão de um experimento de laboratório. O repetir, no curso do tratamento psicanalítico, segundo essa técnica mais nova, equivale a convocar um fragmento da vida real (Freud, l9l4: 153-4).

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