Em 1894, Freud utilizou o termo “pulsão” em relação às tensões endógenas que buscavam soluções, e, em 1895, em relação aos estímulos endógenos que se colocavam no corpo como força. Em 1905, quando escreveu o artigo “Três ensaios de teoria sexual”, que este conceito de demarcação do psíquico com o corporal foi enunciado claramente. Para Freud, a sexualidade distingue-se da idéia de sexo identificada exclusivamente aos órgãos genitais: o corpo é constituído de zonas erógenas, passíveis de prazer sexual. Esta sexualidade está presente na infância, o que já expressa uma diferença de Freud para com sua época. Assim, desde a infância há um objeto e um alvo sexual atuantes. No entanto, durante o desenvolvimento, podem acontecer desvios da pulsão sexual, ou melhor, da escolha de objetos da pulsão sexual.
A idéia de “desvio” parte do pressuposto de que haveria um caminho correto ou normal a ser seguido, a partir de uma ordem dada. O próprio Freud nos fala disso, de “desvios em relação a uma norma suposta" (Freud, 1905: 84). Freud utiliza a terminologia “norma”. Parece que ele mesmo já adianta que a nomia é uma norma suposta em dado lugar, em dado tempo.
Ao remontar-se a Aristófanes no Banquete de Platão, Freud indica que a pulsão sexual se distingue de algo biológico: segundo Freud, por causa deste mito, as pessoas estariam romanticamente acostumadas a união entre homem e mulher. Contudo, existem uniões que não obedecem a essas regras, as uniões dos “invertidos”. Isso acontece porque o próprio alvo da pulsão sexual é variável, porque a pulsão transcende a ordem biológica. Assim, a degenerescência dos invertidos não pode ser considerada como uma causa determinante da inversão.
Em 1915 Freud coloca em uma nota de rodapé, que todos os seres humanos seriam capazes de fazer uma escolha homossexual. A partir do homossexualismo, ele vem relativizar o que seria normal e o que seria patológico na escolha de objetos pulsionais (Freud, 1905: 135).
E o que nos interessa: “Os insanos apresentam somente este desvio aumentado (...)” (Freud, 1905: 135). Freud ultrapassa o pensamento de sua época, ao relativizar o que é normal e o que é patológico em relação à sexualidade, por outro ele vem retomar a condição quantitativa na causa das doenças.a explicação da histeria passa pelo ponto de vista quantitativo, no sentido do excesso de excitações pulsionais que deveriam ser descarregadas (Freud, 1905: 135).
Portanto, entre a pressão pulsional e seu antagonismo à sexualidade, a doença oferece um caminho de fuga e de evasão do conflito, que transforma os impulsos pulsionais em sintomas.
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